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terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Cada Lágrima É Uma Cachoeira (Feliz Ano Novo!)



Feliz ano novo todos gritam enquanto eu estou envolta ao torpor do alcool
Não é suficiente para me fazer esquecer. Não eu não consigo esquecer
Não consigo esquecer os sonhos quebrados, as esperanças arrasadas,
o amor impossível e a felicidade inexistente. Meu coração não esquece.
Então eu rio, eu abraço e digo a todos que tudo esta bem, escondo a verdade
dentro de mim mais uma vez e ao som de uma música alta eu festejo a dor incessante.
Esperança segue cada segundo do novo ano, esperança de que este seja menos
doloroso do que o outro, esperança de que a dor seja suportável.
Mas o alcool não ameniza a dor, pelo contrario ele apenas faz arder minhas feridas
e a dor se torna incontrolável e as lágrimas vem a tona e eu não tenho controle
sobre meu próprio corpo e minha mente não consegue me obedecer e eu choro
Choro por tudo oque deveria ter acontecido no ano que acabou e por tudo
aquilo que nunca virá a acontecer nesse novo ano. Choro por pessoas que eu
gostaria que estivessem ao meu lado, choro por desejar esquecer, por desejar
lembrar, por desejar e querer coisas que a vida me ensinou ser impossíveis para mim.
Eu choro na frente das pessoas sem esconder a minha dor pelo menos dessa vez
e elas me olham horrorizadas sem entender, e embora seja humilhante as lágrimas
são boas e descem por meu rosto sem refino lavando todas os falsos sorrisos e
todas as bobagens que disse para que pensassem que eu estava bem. Eu não estou bem.
Então é meia noite e de novo todos estão gritando, fogos de artificio brilham nos céus
e tudo parece tão bonito e tudo parece tão certo mas a verdade é que cada
segundo que passa me arrasta para um novo começo, um novo começo de dor,
um novo começo de pesar e lágrimas e eu não quero pensar nisso, eu não
quero pensar em mais nada; então eu corro, eu fujo e coloco os fones de ouvido.
Eu aumento o volume da música e lentamente sinto meu coração começar a pular
no peito pela emoção de ouvir pela primeira naquele ano novo a minha música
preferida. E agora eu posso me juntar a nuvem de entusiasmo que encobre a todos
e as crianças dançam, as pessoas pulam e pela primeira vez na noite a manhã de
segunda feira parece pertencer a uma outra vida, eu aumento o volume da música
mais uma vez, eu fecho meus olhos enquanto danço e o paraíso já esta a vista.
Meu inconsciente está trancado em algum ponto escuro de minha mente, tudo agora
é iluminado e ao som dessa musica eu posso finalmente festejar.
Eu festejo o amor impossível, eu festejo os sonhos destruídos, as esperanças
desperdiçadas, a dor incessante e quando dançar não é mais suficiente eu começo
a cantar e minha voz parece me elevar acima dos escombros da minha desgraça
e debaixo desses escombros está os gritos de uma música rebelde.
E eu canto alto, eu não quero que a nova geração se esqueça dessa música e mais
uma vez eu grito: "Eu prefiro ser uma virgula do que um ponto final".
Sim eu ainda estou de preto, sim a dor ainda me poe de joelhos, sim eu ainda
sou a lacuna entre dois trapézios mas ao som dessa música meu coração está batendo
forte e a música se transforma em uma catedral onde eu danço em salões de insanidade.
Pois eu não quero pensar em mais nada, eu não quero refletir, eu não quero entender
a verdade de quem eu sou, hoje é um dia de festa, um dia para festejar e eu entendi
agora que sozinha eu não consigo festejar então eu liguei essa música e enquanto eu
a escuto o mundo pode queimar, as pessoas podem me machucar, mas eu ainda irei cantar.
Este é um lugar onde eu posso esquecer a dor e as sombras, onde eu posso me
esconder e deixar a mentira da alegria viver por mim,  aqui agora surge uma luz e ela
está piscando e dizendo que vai ficar tudo bem e aqui enquanto eu ouço essa música
e todos me veem dançando girando no meio da rua, cada sirene é uma sinfonia
e não importa mais quantas lágrimas eu derrame, e mesmo que eu as esteja derramando
enquanto canto eu não me importo por que nesta catedral de torpor e mentira cada sirene
é um sinfonia e cada lágrima é uma cachoeira, uma linda e brilhante cachoeira.
E eu sei que em algum momento a musica vai acabar e o torpor vai desaparecer
mais ainda assim eu poderei dizer que cada lágrima que derramei foi uma cachoeira.
Sim cada lágrima que derramei celebrando este novo ano foi uma cachoeira.

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