Fachada

Não, eu não sei oque eu sou. Não sei se uma palavra ou
um esteriótipo qualquer pode me descrever. As coisas antes eram bem mais simples.
De repente tudo ficou tão complicado eu já não me reconheço mais.
Quem será que pode ter certeza do que sou apenas ao olhar para mim
se eu mesmo vivendo dentro de mim todo o tempo ainda não descobri?
As vezes sinto tanta raiva de todo mundo e tanto preconceito o tempo todo
que se morasse na Alemanha diria que sou Nazista. As vezes sinto tanto medo
de simplesmente respirar ou sair na rua e ser assombrada pelos fantasmas do passado
que eu poderia jurar que estou em pânico. mas quem poderia ter certeza?
As vezes eu amo tanto e desenho corações e escuto musicas românticas e
todos poderiam jurar que sou uma adolescente piegas e clichê, mas acontece que
eu já não sou mais uma adolescente e o amor nunca esteve em minha vida.
E apesar de tudo isso e muito mais que eu jamais conseguiria colocar em palavras,
existem pessoas que ao me olhar me diz: você é roqueira, você é gótica.
Quem são eles para saber e julgar? eu não sei, eu nunca sei.
As vezes eu me visto de preto para demonstrar a escuridão que predomina
a minha vida e talvez isso me torne gótica, mas isso também me torna infeliz.
As vezes eu ouço rock e canto gritando a batendo o cabelo e fazendo gestos de dedos
e qualquer um que me olha diz que eu sou roqueira e talvez eu seja ou talvez eu
seja apenas louca. Quem é são hoje o suficiente para poder me diagnosticar?
As vezes eu choro e me tranco dentro do quarto e qualquer um que me vê lá
dirá que eu sou infeliz e talvez eu seja mas talvez, apenas talvez, eu esteja sendo
humana, humana o suficiente para cair e me curvar perante minha dor e desespero.
As vezes eu me penteio e pinto os olhos e coloco brincos e um crucifixo no pescoço
e oque para alguns é um sinal do Diabo para mim é apenas um acessório que
me faz sentir mulher, porque talvez eu seja uma mulher e talvez eu seja apenas
uma desculpa aleijada. Quem poderia notar a diferença hoje em dia?
E no final tudo não passa de uma mentira? Quem conhece realmente as pessoas
hoje em dia, que poderia dizer oque sou ou não hoje em dia?
Me pego me perguntando se eu mesmo me conheço e a resposta é talvez.
Porque quem conhece a si mesmo completamente hoje?  as coisas não são simples
assim hoje, e talvez elas nunca foram mas é tão mais fácil acreditar que um dia
as coisas foram diferentes. É como quando eu quero me convencer de que estou
doente e que tudo fará sentido quando eu estiver melhor. É uma linda mentira.
A verdade sobre quem eu realmente sou eu nunca saberei, enquanto isso eu busco
as respostas em palavras perdidas em musicas sombrias e gritos sufocados pelo
travesseiro molhado em lagrimas que chorei em silencio. E quem pode me culpar?
Não me olhem assim, eu não sou um animal! Quem pode me julgar pelos crimes que
nunca cheguei cometer? e quem pode me julgar por ainda estar procurando pela
verdade não dita da minha vida? Quem pode me culpar por ainda estar procurando
o significado oculto da minha medíocre existência? Estou perdida e talvez eu não possa
ser salva e talvez seja tarde demais e talvez as coisas sejam ainda piores do que
eu acredito que sejam e talvez o fim seja apenas uma promessa oculta em palavras
escritas em velhos livros que jamais terão sua originalidade comprovadas, mas
quem pode me culpar por ainda acreditar? E no fim a resposta para a pergunta que
não sei ao certo qual é é bem simples: Eu não sei.
Eu não sei se sou Nazista, ou romântica, ou louca, ou gótica, ou roqueira..
talvez eu seja um misto de tudo isso e quem poderia me culpar por ser assim?
E é nesses momentos, quando tentamos responder as perguntas ocultas em nossas
mentes, que percebemos que elas nunca vão acabar, pois a cada pergunta respondida
outras dez surgem e nesse ciclo vicioso o tempo vai passando e percebo que a vida
nada mais é do que uma fachada sombria, um jogo de sombras onde vemos oque queremos
e escondemos tudo na escuridão de nossas mentes.
No final uma ultima pergunta: Quem sou eu? e quem sou eu para saber?