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sábado, 16 de fevereiro de 2019

Liminal




É doloroso sonhar sem perspectiva, acordar todos os dias desejando não ter acordado.
O coração que acelera no meio da noite sem motivo aparente, a boca amarga, os olhos que ardem ressecados de lágrimas que não consigo derramar, são sintomas, não de depressão, mas da circunstancia, circunstancia essa que me parece não ter saída.
Nem escrever alivia mais, escrever agora causa frustração.
Estou frustrada com a falta de inspiração, com a falta de palavras, com a falta de poesia na minha própria escrita. Quando leio um bom texto me sinto frustrada por não ter sido eu a escrevê-lo.
Estou frustrada com a vida, ou melhor, com a falta dela.
A terapia foi um erro. Não, o erro sou eu. Costumo culpar o mundo e todas as pessoas nele por meus medos, por meus traumas, por minhas dores, me custa muito compreender que talvez, assim, talvez o problema seja eu. Seria possível uma pessoa nascer errada? Eu nasci.
Não consigo curar a minha mente.
Traço planos tal qual o prisioneiro que risca os dias que passam com uma pedra na parede da prisão, tento viver o momento e acreditar que tudo vai ficar bem, mas eu sei que não vai. Faz muito tempo que digo para mim mesma que as coisas vão ficar bem, nada está bem, está tudo pior. Muito pior.
As fantasias não aliviam mais. Sinto falta das fantasias que criava na minha cabeça, sinto falta dos beijos no travesseiro, da sensação de tocar meu próprio rosto e sentir a mão de outra pessoa. As fantasias não funcionam mais e isso é bom, mas não de verdade, me sinto mais sozinha agora do que nunca.
Eu queria chorar, mas não consigo. A psicóloga disse que tenho muito choro reprimido dentro de mim, queria poder chorá-lo agora, mas não consigo.
Cansei de pedir a Deus para que as coisas melhorem, cada vez que peço ele se irrita mais comigo, acho que tenho que deixa-lo em paz, nunca nos demos muito bem.
Não tenho mais esperança, se é que um dia tive de verdade. Se estou viva hoje é pelo acaso, pela minha covardia. Faz muito tempo que decidi morrer.

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