Eu renasci das cinzas, eu lutei contra milhões de anjos,
assassinei milhares de demônios.
Eu exorcizei a minha alma e arranquei do meu peito um coração deficiente.
Se ainda tivesse que fazê-lo eu faria tudo novamente.
Perdoei os condenados, eu expurguei seus pecados.
Julguei os inocentes e os lancei ao fogo, eu os ouvi gritar
e dancei ao som da doce sinfonia.
Eu nasci do ventre pútrido de uma árvore com galhos feitos
dos ossos de assassinos e ladrões.
Fui abençoada pela mão esquerda de Lúcifer e condenada meretriz pelo
tribunal de todos os anjos.
Eu amaldiçoei, eu abominei, eu fiz tremer os fundamentos da terra,
eu fiz os céus se tornarem vermelhos e os mares se tornarem negros.
Eu fui sub-julgada, eu fui assassinada e sete vezes vingada.
Três dias depois eu renasci das cinzas e lutei contra os justos e os bons,
me aliei com traidores e blasfemei ao pé de todas as cruzes.
Esses foram os tempos de minha existência.
Hoje apenas espero pelos tributos pagos a mim,
almas e mais almas que se perdem em vão. Eu vivo da lixeira humana,
dos fracos e injuriados, sou a dor e o medo, sou a fome e a miséria.
Eu sou o que todos temem, oque espreita atrás da porta,
em baixo da cama, em todos os cantos silenciosos.
Quando as luzes se apagam é a mim que temem,
onde existir sombras e medo lá estarei.
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